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As 12 categorias do entendimento de Kant

- 5 min leitura

Para entender as 12 categorias do entendimento de Immanuel Kant, é importante lembrar que o filósofo acreditava que nossa mente não é apenas uma lousa em branco na qual o mundo escreve, como pensava John Locke, mas sim que ela tem uma estrutura ativa que molda nossa experiência.

Imagine que nossa mente é como um telefone que vem de fábrica com uma série de aplicativos instalados. Assim, como um telefone sem qualquer aplicativo é inútil, nossa mente ou entendimento, como chama Kant, não seria capaz de pensar sobre o mundo caso não viesse com algumas categorias “instaladas”. Apenas veríamos um monte de informações desconexas.

Vamos analisar em detalhe cada uma das categorias que o filósofo identificou para entender melhor o papel que desempenham em nosso pensamento.

Tabela de categorias de Kant

Quantidade

Imagine que você está em uma cozinha e, sobre a mesa, há várias maçãs. Algumas estão agrupadas em um cesto, outras estão espalhadas ao redor. Agora, pense em como você percebe essas maçãs. Primeiro, você identifica cada maçã como um objeto individual, distinto das outras. Em seguida, você nota que há várias maçãs, contando-as talvez. Por último, você as vê como um conjunto, um todo que inclui todas as maçãs na mesa. Essa capacidade de perceber e organizar objetos em termos de número e conjunto é o que Immanuel Kant descreve com as categorias de “quantidade” em sua filosofia.

Estas categorias são: unidade, pluralidade e totalidade. A “unidade” refere-se à nossa habilidade de ver cada maçã como um objeto único. A “pluralidade” é a capacidade de entender que há mais de uma maçã, permitindo-nos contar e agrupar. Finalmente, a “totalidade” é a percepção do conjunto completo de maçãs como uma unidade maior, uma totalidade.

Qualidade

Continuando nosso cenário na cozinha com várias maçãs sobre a mesa, agora vamos explorar a categoria de “qualidade” de Kant, usando esses mesmos elementos. Ao olhar para as maçãs, você não apenas percebe a quantidade delas, mas também qualidades específicas que definem sua experiência.

Primeiro, há a “realidade” das maçãs. Elas existem ali, na mesa, com suas cores vibrantes, texturas e formas. Essa percepção da existência e das características das maçãs é o que Kant chama de realidade, um aspecto da qualidade que nos permite apreciar a presença de algo em seu estado concreto.

Em seguida, considere a “negação”. Apesar da presença das maçãs, você também pode notar a ausência de outros frutos, como bananas ou laranjas. Essa percepção da não existência, da ausência de algo, é igualmente importante para compormos nossa imagem mental do ambiente.

Por último, há a “limitação”. Cada maçã é limitada em seu próprio espaço e forma; elas não são infinitas e têm características distintas das mesas e cadeiras na cozinha. A limitação tem a ver com nossa capacidade de compreender que uma coisa termina e outra começa.

Relação

Expandindo o cenário da cozinha com as maçãs, vamos explorar como as categorias de “relação” de Kant podem ser aplicadas a esse ambiente. Essas categorias nos ajudam a entender como os objetos e eventos estão interconectados e interagem entre si.

Primeiramente, considere a categoria de “substância e acidente”. As maçãs (substâncias) estão sujeitas a várias condições ou estados (acidentes) – por exemplo, podem estar maduras ou não, podem ser cortadas, cozidas ou permanecerem inteiras. A substância, neste caso as maçãs, permanece a mesma apesar das mudanças de estado ou condição. Essa categoria tem a ver com nossa capacidade de identificar o que é essencial para um objeto ser ele mesmo e o que é acessório.

Em seguida, pense na relação de “causa e efeito”. Se decidirmos cozinhar as maçãs, esse evento (causa) levará a uma mudança nelas (efeito). Talvez as transformemos em uma torta, mudando suas propriedades originais. A relação de causa e efeito está presente na forma como os eventos afetam os objetos ao nosso redor.

Por último, a “reciprocidade entre agente e paciente” pode ser vista na interação entre o cozinheiro e as maçãs. O cozinheiro (agente) atua sobre as maçãs (paciente), cortando-as ou cozinhando-as, mas também é influenciado por elas, como no caso de decidir o que preparar baseado em sua aparência ou sabor.

Modalidade

Por fim, as categorias de “modalidade” em Kant tratam de como entendemos a natureza da existência e a possibilidade das coisas.

Primeiro, temos a categoria de “possibilidade/impossibilidade”. Aqui, consideramos o que é possível acontecer na cozinha. Por exemplo, é possível que uma maçã caia da mesa se for empurrada. Em contrapartida, é impossível que a maçã, por si só, comece a flutuar no ar. Essa categoria nos ajuda a discernir entre o que pode ocorrer e o que não pode.

A seguir, a categoria de “existência/inexistência” se relaciona com o que efetivamente existe ou não. Na cozinha, podemos ver e tocar as maçãs, confirmando sua existência. Por outro lado, um objeto imaginário, como um dragão, não existe nesse mesmo contexto.

Por último, temos a “necessidade/contingência”. Isso se refere a eventos que são necessários ou contingentes (dependentes de outras condições). Por exemplo, é necessário que as maçãs caiam se empurradas da mesa. É um evento necessário. Já a presença de maçãs na mesa é contingente – se ninguém tivesse colocado elas lá, não teríamos maçãs.

Nossos aplicativos mentais

Kant, como dissemos no início, acreditava que nossa mente vem equipada com “aplicativos mentais” – as categorias do entendimento. Já nascemos com elas. Não é algo que aprendemos do mundo. E essas categorias, como vimos ao explorar quantidade, qualidade, relação e modalidade, são essenciais para organizar e interpretar as informações que recebemos do mundo.

Uma forma de perceber o quão essenciais elas são para a nossa compreensão da realidade, é se perguntar o que aconteceria se não possuíssemos essas categorias? Como seria nossa percepção da realidade?

Imagine um mundo onde sua mente não tem a capacidade de perceber a unidade. Cada objeto, cada pessoa, cada momento não seria visto como um todo, mas como um amontoado caótico de sensações e impressões. As maçãs na cozinha, por exemplo, não seriam percebidas como entidades individuais, mas como um emaranhado confuso de cores e formas.

Agora, pense em um cenário onde a relação de causa e efeito não é reconhecida. Os eventos não teriam consequências compreensíveis. Derrubar uma maçã da mesa não seria automaticamente ligado à maçã caindo no chão. Nosso entendimento de eventos cotidianos seria fragmentado e imprevisível.

Além disso, sem a capacidade de discernir a existência ou a inexistência, nossa realidade se tornaria uma mistura indecifrável do que é real e do que não é. Não conseguiríamos diferenciar entre um objeto que está fisicamente presente e um pensamento ou ilusão.

Kant acreditava que as categorias são as condições que nos permitem organizar nossa experiência do mundo. Elas são inatas, parte integrante de como nossa mente processa a realidade. Sem elas, nossa percepção do mundo seria um caos, um turbilhão ininteligível de sensações e pensamentos. É graças a essas categorias pré-instaladas que podemos navegar, compreender e interagir com o mundo ao nosso redor de maneira significativa e ordenada.